Expedição Precursora de Gramatão Telles - 1548

Preparativos para a Fundação da Cidade do Salvador e a instalação do Governo do Brasil

 

A importante expedição comandada por Gramatão Telles, anterior à de Thomé de Sousa, é pouco referida nos livros de História e pouco se conhece dela.

O capitão Gramatão Telles (às vezes referido como Garamatão Télez), era cavaleiro da Casa Real, navegador experiente e reconhecido por sua bravura. Antes de vir ao Brasil, serviu em Arzila, no Marrocos. Atuou em missões portuguesas no Estreito de Gibraltar, em 1539, como comandante de um navio. Lutou contra os mouros, chegando a matar o xeque de Afu.

Thomé de Sousa também serviu em Arzila, em 1528. É possível que Gramatão Telles já o conhecesse.

Sabe-se que o rei Dom João III entregou-lhe uma carta datada de 19 de novembro de 1548 (veja quadro vermelho, ao lado), para ser enviada a Caramuru.

Nessa carta, Dom João III refere-se a uma outra carta enviada a Paulo Dias Adorno, dono de um engenho de açúcar e casado com Filipa Álvares, filha de Caramuru, em cerimônia realizada na Igreja da Vitória, em 1534.

Gramatão Telles partiu de Portugal com duas caravelas e teria chegado na Bahia no final de dezembro de 1548, de acordo com as referências de Jaboatão, que escreveu em seu Novo Orbe Serafico Brasilico:

Tambem aqui assistia desde o anno passado [1548] Gramataõ Telles, hum Capitaõ, que com duas caravellas havia mandado El Rey com aviso aos de Villa Velha, Caramurú, e seus genros, e a prevenir com elles a chegada de Thomé de Sousa.

Se assim foi, teria sido uma viagem rápida.

Caramuru, Gramatão Telles e mais 30 ou 40 colonos foram receber Thomé de Sousa, quando sua expedição chegou no Porto da Barra, em 29 de março de 1549.

A fundação do Brasil, como unidade política, ocorreu quando o rei D. João III decidiu unificar a América Lusitana sob governo único, com sede em uma cidade a ser construída na entrada da Baía de Todos os Santos.

A construção da Cidade do Salvador foi um dos maiores empreendimentos arquitetônicos executados na América, até então. Os portugueses eram empreendedores meticulosos e fazia todo o sentido enviar uma expedição precursora para para verificar as condições da Baía de Todos os Santos e preparar o ambiente para a chegada de Thomé de Sousa e a construção da Cabeça do Brasil.

Existem referências que também indicam uma segunda missão precursora destinada a visitar as demais capitanias, para avisar a sobre a unificação do Brasil, com governo central na Bahia. Talvez as duas caravelas referidas por Jaboatão fossem, na verdade, duas missões distintas, uma para a Baía de Todos os Santos e outra para avisar às demais capitanias.

Mais: Bahia no século 16

 

Carta de Dom João III a Caramuru, levada por Gramatão Telles

A seguir, o texto, com grafia atual, publicado no Catálogo Genealógico de Jaboatão, de 1768*:

Diogo Álvares.

Eu El Rei vos envio muito saudar. Eu ora mando Thomé de Souza, fidalgo da minha casa, a essa Bahia de Todos os Santos por capitão governador dela, e para na dita capitania e mais outras desse Estado do Brasil prover de justiça dela, e do mais que ao meu serviço cumprir e mando, que na dita Bahia faça uma povoação, e assento grande e outras coisas de meu serviço. E porque sou informado pela muita prática e experiência, que tendes dessas terras, e da gente, e costumes delas, e sabereis bem ajudar e conciliar, vos mando, que o dito Thomé de Souza lá chegar, vos vades para ele, e o ajudeis no que lhe deveis cumprir, e vos ele encarregar, porque fareis nisso muito serviço; e porque o cumprimento, e tempo de sua chegada a ela abastada de mantimentos da terra para provimento da gente, que com ele vai, escrevo sobre isso a Paulo Dias, vosso genro, procure por se haverem, e os vá buscar pelos portos dessa capitania de Jorge de Figueiredo. Sendo necessária vossa companhia e ajuda, encomendo-vos, que o ajudeis no que virdes que cumpre, que o fareis. Bartolomeu Fernandes a fez em Lisboa a 19 de novembro de 1548. ― Rei.

Sobrescrito por El Rei a Diogo Álvares, cavaleiro de minha casa na Bahia de Todos os Santos.

 

* Notas de Jaboatão sobre esta carta:

Acha-se no liv. 4 de serviços da câmara da Bahia, fl. 24, e aí as certidões dos tabeliães, que a reconheceram.

Consta dos papeis dos serviços de Alvaro Rodrigues Adorno, neto do dito Diogo Alvares Caramuru, que se acha a fl. no cartório de Valensuela, que serve o capitão Antonio Teixeira Braga, no livro deles do ano 1704, fl. 321.

 

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O Porto da Barra, no final do século 19, local onde Thomé de Sousa aportou, em 29 de março de 1549. No século 21, foi considerado pela CNN, uma das melhores praias do mundo.

 

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Por Jonildo Bacelar

 

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