Ciclos da Borracha

 

A borracha natural é uma matéria orgânica que deriva da coagulação do látex retirado da seringueira, um tipo de árvore originária da Amazônia, principalmente a Hevea brasiliensis. As propriedades de permeabilidade e de elasticidade da borracha a tornam de grande utilidade em várias aplicações. Era conhecida pelos índios americanos, antes da colonização europeia, que a usavam, por exemplo, para confeccionar potes, calçados e bolas para jogar. No início do século 17, os espanhóis já conheciam seu processo de fabricação.

No século 18, a borracha começou a ser estudada cientificamente pelos europeus. Em 1770, o químico inglês Joseph Priestly deu-lhe o nome de rubber (esfregador), observando que ela podia ser usada para apagar marcas de lápis. Nas décadas seguintes, a borracha foi muito usada em calçados e essa foi a sua primeira grande aplicação, inclusive com a exportação do produto para a Europa.

Em 1839, Goodyear inventou o processo de vulcanização, que preservava a elasticidade da borracha e a tornava mais resistente. Em 1845, o escocês Robert Thomson inventou o pneu de borracha. Em 1867, o mesmo Thompson inventou o automóvel com rodas com borracha: o Thomson road steamer. No Brasil, o primeiro desses veículos chegou na Bahia, em 1871. Nos anos seguintes o uso da borracha tomou grande impulso em todo o mundo. Era usada, por exemplo, em bicicletas, motocicletas, triciclos, automóveis e ônibus. Mais: História do Automóvel

Nos anos 1850, a matriz econômica da Amazônia já apresentava grandes mudanças com a crescente demanda por borracha. Dezenas de milhares de pessoas, na região, estavam envolvidas nessa atividade.

Com a maior demanda pela borracha, intensificou-se e migração de brasileiros para a Amazônia. Entre as regiões mais produtivas estão as terras do Acre, que em 1867, foi considerada como território da Bolívia, pelo Tratado de Ayacucho. Naquela época, o Brasil estava em guerra com o Paraguay e buscava um aliado. Nos anos 1870, acentuou-se a migração de brasileiros para o Acre.

Buscando uma saída para seus produtos até o Atlântico, incluindo a borracha, a Bolívia acenou para o financiamento da construção da Ferrovia Madeira-Mamoré e uma linha de barcos a vapor. O estadunidense George Earl Church obteve concessões da Bolívia e do Brasil e fundou, em 1870, em Nova York, a National Bolivian Navigation Company e, em 1871, organizou a Madeira and Mamoré Railway Company, em Londres. Essa tentativa não deu certo. A Ferrovia só foi construída com financiamento do Brasil, no início do século 20.

A produção da borracha desenvolveu grande parte da Amazônia, incluindo o Departamento de Loreto, no Peru, com capital em Iquitos. A maior parte da produção era escoada pelo Rio Amazonas. Manaus ficou rica com as tarifas alfandegárias. Belém também usufruía da riqueza, pois várias empresas estrangeiras instalaram-se na região.

Em 1827, foram produzidas 31 toneladas de látex da borracha. Em 1847, foram 624 toneladas. Por volta de 1870, produzia-se cerca 6 mil toneladas anuais. Nos anos 1880, eram cerca de 11 mil t anuais. Nos anos 1890, cerca de 21 mil t anuais. Na primeira década do século 20, cerca de 35 mil t anuais.

Com a grande demanda, os empresários buscavam alternativas para a borracha amazônica. Outras árvores, que não a seringueira, eram usadas para a produção da borracha, principalmente a africana Landolphia kirkii, mas nenhuma era mais produtiva que a Hevea brasiliensis.

Em 1876, sementes da Hevea brasiliensis foram contrabandeadas do Brasil para a Inglaterra e cultivadas no Kew Gardens, em Londres. Depois foram levadas para Sri Lanka e Singapura, então, colônias britânicas, onde os ingleses desenvolveram um eficiente processo de cultivo da seringueira. Posteriormente, a seringueira foi espalhada pelo sudeste da Ásia e outras regiões.

Em Chemnitz, um centro industrial da Alemanha, o Cônsul James Carl Monaghan, dos Estados Unidos, respeitado por suas contribuições acadêmicas, escrevia regularmente ao Departamento de Estado sobre o comércio internacional. Em 1897, por exemplo, recomendou que o sistema métrico fosse adotado nos EUA. Em fevereiro de 1899, o Departamento de Estado recebeu uma carta sua, datada de 16 de janeiro, sobre o estratégico mercado que se desenvolvia na região central da América do Sul, especialmente, em Iquitos, no Peru. A canhoneira USS Wilmington servia em áreas do norte da América do Sul e foi enviada para uma missão no Rio Amazonas, até Iquitos, cerca de três semanas após o recebimento da carta de Monaghan. Aportou em Belém, em 10 de março. Durante a missão da Wilmington representantes dos Estados Unidos reuniram-se com representantes da Bolívia e esboçaram um acordo para as terras do Acre, contra os interesses do Brasil. Em 1903, o Brasil comprou o Acre dos bolivianos e indenizou os investimentos dos Estados Unidos na região.

No final do século 19, a Amazônia respondia por cerca de 65% da produção mundial de borracha. No início do século 20, a produção de borracha na Ásia, com seus eficientes métodos de cultivo, já era superior à produção sul-americana. O preço da borracha caiu e, a partir de 1910, a economia da borracha entrou em declínio no Brasil. O primeiro ciclo da borracha terminou por volta de 1915, mas a atividade econômica continuou, embora muito reduzida.

Com o início da Segunda Guerra Mundial, houve o segundo ciclo econômica da borracha, no Brasil. Com a Guerra, o suprimento de borracha da Ásia ficou comprometido, então, os Estados Unidos buscaram a borracha da América do Sul. Mas a produção brasileira era insuficiente, então os Estados Unidos investiram também na produção econômica de borracha sintética. O segundo ciclo da borracha durou até os anos 1950.

Após a Guerra, borrachas sintéticas e plásticos começaram a dominar o mercado, embora a borracha natural ainda tenha importante mercado. Cerca de 90% da borracha natural é atualmente produzida na Ásia. No início dos anos '70 a produção total mundial de borracha natural era de 3 milhões de toneladas. Em 2008, chegou a 10 milhões de toneladas.

O Brasil é atualmente importador de borracha natural. Em 2014 produzia apenas 35% da demanda nacional.

 

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Habitação de um rico seringueiro, em 1868, publicado no livro de Keller-Leuzinger, Vom Amazonas und Madeira, 1874. Keller foi contratado pelo governo brasileiro para apresentar opções de transporte através vales dos rios Mamoré e Madeira. Em 1870, estava decidida a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, um dos grandes desafios de engenharia no Brasil do século 19.

 

Bolas de borracha, na Estação de Abunã da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, Município de Porto Velho (atual Rondônia), em 1911. O látex da seringueira era convertido em borracha por um processo de defumação.

 

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Seringueiro extraindo látex (ilustração de Percy Lau).

 

 

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Por Jonildo Bacelar