A Família Real no Brasil
A Revolução do final do século 18 deixou a França de cabeça pra baixo. Seguiu-se um período de grande tumulto e instabilidade. O povo, cansado da carnificina entre os franceses, permitiu que Napoleão Bonaparte assumisse o controle total da França. Como grande general, a estratégia de Bonaparte, para manter a França unida, era simples: conquistar, conquistar, conquistar...
Em 1807, a França já havia dominado grande parte da Europa. A Inglaterra era o principal oponente. O Príncipe Regente Dom João de Bragança aliou-se secretamente aos ingleses. No final daquele ano, Napoleão atacou Portugal.
Para manter o controle do Império Lusitano, o Príncipe Regente transferiu a Corte Portuguesa para o Brasil. Não foi uma fuga, pois a Corte permaneceu em território português, o Brasil. Foi uma mudança estratégica, imitada depois pelos russos.
Em 30 de novembro de 1807, Lisboa e parte central de Portugal foi dominada pelo General Junot, que tinha sido embaixador em Lisboa, dois anos antes. Em 1808, Napoleão dominou a Espanha e entregou a coroa para o seu irmão José Bonaparte. A Inglaterra, aliada de Portugal, liderou os portugueses na Guerra. Junot foi derrotado em agosto de 1808, na Batalha do Vimeiro, mas a Guerra Napoleônica na Península Ibérica durou até 1813.
A Família Real deixou Lisboa, em 27 de novembro de 1807, logo após a notícia da invasão de Portugal pelos franceses.
Chegou em Salvador, em 23 de janeiro de 1808. O Príncipe Regente assumiu diretamente o governo do Estado do Brasil. O último vice-rei foi o Oitavo Conde dos Arcos.
Em Salvador, em 28 de janeiro, o Príncipe assinou a Carta Régia de Abertura dos Portos do Brasil às nações amigas. Fazia-se exceção ao comércio do pau-brasil. Em 18 de fevereiro, criou a Escola de Cirurgia da Bahia, o primeiro curso superior para profissionais liberais no Brasil. A indústria no Brasil, proibida em 1785, foi restabelecida, quando o Príncipe D. João autorizou, durante sua estadia em Salvador, a construção de uma fábrica de vidros, a Real Fábrica de Vidros da Bahia, inaugurada em 1810. O alvará de 1785 foi anulado em 1º de abril de 1808.
Após 35 dias na Bahia, o Príncipe seguiu para o Rio de Janeiro, onde chegou em 7 de março. No Rio de Janeiro, que se tornou a sede da Corte do Império Lusitano, o Príncipe criou a Imprensa Régia e diversas outras estruturas e serviços públicos. Mais: a História da Imprensa no Brasil ►
Em seu Decreto de 25 de novembro de 1808, o Príncipe Regente permitiu a concessão de sesmarias a estrangeiros residentes no Estado do Brasil. Buscava principalmente aumentar a lavoura e a população.
1810
Fundou-se a Real Biblioteca, no Rio de Janeiro e, no ano seguinte, foi criada, na Bahia, a primeira biblioteca pública do Brasil. Mais em Bibliotecas ►
A Carta de Lei, de 4 de dezembro, criou a Academia Real Militar na Corte e Cidade do Rio de Janeiro.
1811 - A Capitania do Piauí foi separada da administração do Maranhão.
Continuação do século 19:
● 1815, Reino do Brasil ►
● 1821, Brasil na Monarquia Parlamentar Portuguesa ►
● 1822-1824, Independência do Brasil ►
● Dom Pedro II ►
● 1864-1870, Guerra do Paraguay ►
● 1889, República ►
● 1896, Guerra de Canudos ►
O Brasil tornou-se a Sede da Corte Portuguesa
Chegada da Família Real Portuguesa à Bahia, em 1808. Pintura em óleo de Cândido Portinari, 1952 (original na Associação Comercial da Bahia).
De acordo com relato do escritor britânico Sir James Prior, que esteve no Brasil em 1813, o Príncipe Regente adorou Salvador e desejava torná-la a sede da Corte, mas foi demovido por seus ministros, por razões políticas.
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Dom João foi um Destemido Estadista
Sendo herdeiro do trono, Dom João tinha o título de "Príncipe do Brasil". Em 1792, passou a governar por incapacidade da Rainha D. Maria I. Em 15 de julho de 1799, tornou-se Príncipe Regente de Portugal, Algarves e demais domínios lusitanos.
Achar que D. João agiu com medo de Napoleão é uma bobagem. Os reis medrosos entregaram seus reinos à França. Em vez disso, D. João mentiu para Napoleão e aliou-se à Inglaterra. Foi uma atitude corajosa e desafiadora à maior potência daqueles anos. Todos os grandes generais recuaram diante da impossibilidade de vitória, incluindo o próprio Napoleão, mais de uma vez.
Tímido na juventude, o Príncipe Regente tornou-se um governante bem informado, conciliador, apreciador das artes, excelente político e brilhante estrategista. A aliança com a Inglaterra (e não com a França), por exemplo, mostrou-se acertada. Naqueles anos, a França estava mais poderosa na Europa Continental, mas os britânicos tornaram-se os maiores senhores dos oceanos, no final do século 18.
Ao vir para o Brasil, Dom João agiu como estadista. Foi um recuo estratégico e positivo, principalmente para o Brasil. O Príncipe Regente não fugiu, ele continuava em suas terras e com endereço bem conhecido.
Os russos imitaram os portugueses, em 1812, abandonando Moscou. Foi também um recuo estratégico para voltar a atacar, em condições favoráveis, como fizeram os portugueses.
Ao contrário da Espanha, que foi governada por José Bonaparte, irmão do imperador francês, de 1808 a 1813, Portugal nunca foi totalmente dominado por Napoleão.
Os franceses entraram em Portugal, em novembro de 1807, inicialmente sem resistência por própria orientação de Dom João. Em 1º de maio de 1808, após se estabelecer no Brasil, Dom João rompeu relações com a França e tornou nulos todos os tratados assinados antes com os franceses. Em 10 de junho, declarou guerra a França e que "por Mar, e por terra se lhes fação todas as possíveis hostilidades". Os portugueses passaram lutar para expulsar os franceses de suas terras, o que conseguiram, em 1811, com a ajuda dos ingleses, após a sangrenta Batalha do Buçaco.
Como represália, em 1809, D. João invadiu Cayenne (Guyana Francesa), ocupação que durou até 1817. Durante essa época, D. João VI estabeleceu a Colônia de Cayena e Guyana, como uma unidade administrativa de seu Reino. A devolução dessa colônia para a França foi feita em condições favoráveis a Portugal, com ampliação das fronteiras do Brasil.
No final, Portugal saiu como um dos vencedores das guerras napoleônicas, enquanto Napoleão morreu em Santa Helena, preso e abandonado.
Por Jonildo Bacelar
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