Bahia no Século 19
No início do século 19, a Bahia era a capitania mais rica do Brasil e Salvador, com mais de 70 mil habitantes, era a maior cidade. A capital baiana era também a capital eclesiástica do Brasil (até 1892).
Após a chegada do Príncipe Regente Dom João, a Bahia recebeu muitos imigrantes britânicos, alemães, suíços, irlandeses, italianos e outros. A abertura dos portos tornou Salvador um dos mais importantes portos do mundo, o maior do Hemisfério Sul.
História da Bahia no século 19, em cronologia:
1808 - Em 23 de janeiro, o Príncipe Regente D. João chegou na Bahia. Por mais de um mês, Salvador foi a sede da Corte Portuguesa. Aqui começaram a ser tomadas as medidas que dariam ao Brasil o mesmo status de Portugal, em 1815: Reino. Em 28 de janeiro, o Príncipe assinou a Carta Régia de Abertura dos Portos do Brasil às nações amigas. Em 18 de fevereiro, criou a Escola de Cirurgia da Bahia, o primeiro curso superior para profissionais liberais no Brasil. Ainda, em Salvador, D. João autorizou a construção da Real Fábrica de Vidros da Bahia, pondo fim à proibição de indústrias no Brasil, desde 1785. Após 35 dias de sua chegada, D. João seguiu para o Rio de Janeiro.
1811 - Em maio, começou a circular a Idade d'Ouro do Brazil. Fundada na Bahia, foi a primeira gazeta de propriedade privada, publicada no Brasil. Durou até 1823.
1812 - Inaugurou-se o Theatro São João, a primeira grande casa de espetáculos do Brasil. Foi destruído em 1923.
1818 - Imigrantes alemães fundaram a Colônia Leopoldina, no sul da Bahia. Foi a primeira colônia alemã no Brasil.
1820 - Um decreto real de 8 de julho devolveu a autonomia de Sergipe, desmembrado da Bahia.
Em agosto, em Portugal, eclodiu a Revolução Liberal do Porto, que se espalhou pelo País, nos meses seguintes. Em essência, os portugueses buscavam uma monarquia constitucional parlamentar, com o Rei em Portugal, como uma figura quase alegórica.
1821 - Em janeiro, os ideais da Revolução Liberal chegaram na Província do Pará. Em fevereiro chegaram na Bahia, onde houve o Movimento Constitucionalista.
1822 - Em 25 de junho, os baianos venceram os portugueses em Cachoeira. Em Sete de Setembro, o Príncipe Dom Pedro rompeu com Portugal e lançou seu grito de guerra: Independência ou Morte! Mais: Guerra da Independência ►
1824 - Em 25 de março, o Imperador D. Pedro I outorgou a primeira constituição do Brasil independente.
1831 - A Ilha de Itaparica foi desmembrada de Salvador, formando a Vila de Itaparica, pelo Decreto Imperial de 25 de outubro.
1832 - Charles Darwin chegou em Salvador na expedição do Beagle. A relação de Darwin com a Bahia foi de pura paixão. O Beagle retornou à Bahia outras duas vezes.
1835 - Revolta dos Malês. Em janeiro, africanos de religião muçulmana revoltaram-se em Salvador. O movimento foi sufocado, mas teve grande repercussão.
1837 - Sabinada. Um levante militar no Forte de São Pedro, que buscava a independência da Bahia. Foi sufocada no ano seguinte. Alguns revolucionários foram transferidos para outras províncias.
Em agosto, Bento Gonçalves, líder da Revolução Farroupilha, foi aprisionado no Forte São Marcelo. Escapou, em 10 de setembro, pela ação da Maçonaria baiana. Em 1839, revolucionários baianos lideraram um levante na Fortaleza de Araçatuba, em Santa Catarina, e aderiram à Revolução Farroupilha.
1844 - Teve início a indústria têxtil, em Valença, com a Fábrica Todos os Santos. Em 1852, Valença produzia quase um terço da produção nacional. Em Salvador, funcionava, desde 1840, a fábrica de tecidos de Santo Antônio do Queimado.
1855 - O Brasil foi assolado por uma epidemia de cólera, que se seguiu pelo ano seguinte. Atingiu também outros países americanos e europeus. Na Bahia, vitimou mais de um quarto da população, principalmente escravos. Em Salvador, foi fatal para 3 a 5 pessoas por dia, mas em Santo Amaro, por exemplo, eram cerca de 10 mortes diárias.
1858 - Em 18 de julho, foi fundado o Banco da Bahia, com poder de emitir papel-moeda.
Iniciou-se a construção da Estrada de Ferro da Bahia ao São Francisco (significando Salvador a Juazeiro), com a instalação do canteiro de obras. Foi inicialmente construída pelos britânicos. A primeira seção foi inaugurada em 28 de junho de 1860, entre Jequitaia e Aratu. Em 1863, chegou em Alagoinhas. O trecho final, até Juazeiro, foi construído pelo engenheiro baiano Miguel de Teive e Argollo.
1859 - Em 6 de outubro, o Imperador D. Pedro II chegou em Salvador, durante uma visita às províncias do norte. Em janeiro do ano seguinte, o Imperador inaugurou a Fábrica Nossa Senhora do Amparo, indústria têxtil em Valença. Essa fábrica foi adquirida pela família Lacerda, em 1869 (a mesma do Elevador).
Em decreto de 1º de novembro, foi fundado o Imperial Instituto Bahiano de Agricultura, no município de São Francisco do Conde, inaugurado no dia 18 seguinte. Em 23 de junho de 1875, foi criada a Escola Agricola de S. Bento das Lages, no mesmo município, associada ao Instituto, para a formação de engenheiros agrícolas, os primeiros no Brasil.
1864 - Começou a Guerra do Paraguay. Os baianos tiveram grande participação na solução do conflito. Em 1865, o baiano Angelo Moniz da Silva Ferraz era o Ministro da Guerra e negociou a rendição dos paraguayos em Uruguaiana. O baiano Zacarias de Góis e Vasconcelos foi Presidente do Conselho de Ministros, de 1866 a 1868, durante a Guerra. Foi o baiano José Maria da Silva Paranhos, quem assinou o acordo de paz, pondo fim à Guerra, em 1870. De grande destaque, foi a heroína baiana Anna Nery, como enfermeira no Corpo de Saúde do Exército. O baiano André Rebouças serviu como engenheiro militar durante a Guerra e desenvolveu um tipo de torpedo. De maior relevância foi a participação dos Voluntários da Pátria, entre eles, o escritor baiano Cezar Zama. Muitos eram escravos e lá deixaram suas vidas.
1880 - No final do ano teve início a construção da Estrada de Ferro Bahia-Minas, partindo de Caravelas, sob a responsabilidade do engenheiro baiano Miguel de Teive e Argollo.
O pavilhão monumental, construído no Largo do Theatro, para a chegada de Dom Pedro II, em Salvador, em 1859.
A Fábrica Todos os Santos de Valença, em 1844. A Bahia foi o maior exportador de tecidos no Brasil, na segunda metade do século 19.
A Praça Thomé de Souza no dia da Proclamação da República na Bahia, em 17 de novembro de 1889, dois dias depois da data de referência nacional. Na Bahia, a República foi oficializada no Forte de São Pedro, como registra uma lápide no próprio Forte.
1888 - Abolição da escravatura.
1889 - Em 17 de novembro de 1889 foi proclamada a República na Bahia, no Forte de São Pedro, dois dias após a data de referência nacional. O governo provisório foi chefiado por Deodoro da Fonseca. O vice-chefe foi Ruy Barbosa.
1891 - Em 24 de fevereiro foi promulgada a primeira constituição republicana dos Estados Unidos do Brasil. Ruy Barbosa foi o revisor da nova constituição e defendeu mais autonomia para os estados e independência entre os poderes. A Constituição do Estado da Bahia foi promulgada em 2 de julho do mesmo ano.
Em 15 de abril, fundou-se a Faculdade Livre de Direito da Bahia, incorporada à UFBA, no século 20.
Inaugurada, em Salvador, a indústria têxtil Companhia Empório Industrial do Norte, pelo baiano Luiz Tarquínio. No ano seguinte, ele construiu uma vila operária para os empregados. Essa Companhia tornou-se, em alguns anos, uma das maiores do Brasil, nesse setor.
1896 - Guerra de Canudos. Uma comunidade de gente humilde, bem organizada e igualitária, chefiada pelo religioso Antônio Vicente Mendes, o "Conselheiro", foi dizimada pelo Exército, em 1897.
1900 - Em 21 de abril foi inaugurado o novo Palácio do Governo, após 10 anos de obras.
Na segunda metade do século 19, a economia baiana tinha base principalmente na exportação de açúcar, fumo, diamantes, café, algodão, aguardente, couro e cacau. A Bahia tinha mais de mil engenhos e ferrovias foram construídas para o escoamento da produção. Nessa época, a Bahia tinha grande ligação comercial com a Grã-Bretanha, principalmente para importação, mas também exportava para lá. A exportação de cacau tomou impulso nos últimos anos do século 19.
A indústria têxtil baiana, com fábricas em Valença e em Salvador, instaladas nos anos 1840, chegou a ser a maior do Brasil, na segunda metade do século 19. Em Salvador, a fábrica de Santo Antônio do Queimado produzia 1.000 varas de tecido por dia, operados pelo engenheiro francês José Revault. Em Plataforma, fundou-se a fábrica têxtil São Braz, em 1875. Em 1891, Luiz Tarquínio fundou a Companhia Empório Industrial do Norte, que se tornou uma das maiores indústrias têxteis do Brasil, no início do século 20. Na segunda metade do século 19, começou a se formar o primeiro polo industrial da Região Metropolitana, na área de Itapagipe, onde foi fundada, por exemplo, a fábrica de cristais Fratelli Vita, que depois fabricou também refrigerantes, o famoso guaraná.
Na engenharia e transportes, a Bahia foi pioneira, por exemplo, com o primeiro sistema de água encanada do Brasil (1856), com a primeira linha de ônibus sem trilhos (1871) e com o Elevador Lacerda (1873). O engenheiro baiano Miguel de Teive e Argollo construiu duas grandes ferrovias na Bahia. Outros engenheiros baianos, como os irmãos Antônio e André Rebouças e Theodoro Sampaio, foram de grande importância na construção de portos, pontes e ferrovias em outros estados, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. O curso de engenharia militar que existiu em Salvador, desde o final do século 17, foi extinto na primeira metade do século 19. Em 1894, fundou-se a a Escola Politécnica da Bahia.
Nas artes, como em outros séculos, os baianos brilharam. Houve a transição do barroco para o neoclássico. Salvador ganhou belos monumentos e chafarizes franceses e italianos. Reformas em algumas igrejas adotaram o novo estilo. Nas últimas décadas do século 19, algumas igrejas foram construídas em neogótico. Em 1871, fundou-se a Academia de Belas Artes da Bahia, atualmente Escola de Belas Artes da UFBA, uma das mais renomadas do Brasil. Na literatura e poesia, Castro Alves, Junqueira Freire, Manoel Pessoa da Silva, Cesar Zama, Amélia Rodrigues e muitos outros.
O teatro foi uma grande expressão artística na Bahia do século 19, com o Theatro São João. Tinha uma companhia de teatro própria, com cantores, dançarinos e músicos vindos da Europa. Com o tempo, artistas baianos foram substituindo os europeus, com destaque para Xisto Bahia (1841-1894).
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Desfile de Dois de Julho de 1866, em Salvador. Ilustração de Gavarni para o jornal francês L'Illustration Journal Universel, publicada naquele ano. O tradicional desfile comemora a vitória brasileira sobre os portugueses na Guerra pela Independência do Brasil. É o maior evento cívico da Bahia e tem grande participação popular (clique na imagem para saber mais).
Entrada do Exército Libertador em Salvador, em Dois de Julho de 1823. Ao fundo, o Convento da Soledade (tela de Presciliano Silva, 1930). Representa a vitória dos baianos sobre os portugueses, na Guerra de Independência do Brasil.
O Edifício da Escola Agrícola, em construção, em 1872, no Engenho de São Bento das Lages, município de São Francisco do Conde, Recôncavo Baiano. A Escola foi fundada pelo Decreto N° 5957 de 23 de junho de 1875 e começou a funcionar em 1877, para a formação de engenheiros agrícolas. As obras começaram em 1864. Era associada ao Imperial Instituto Bahiano de Agricultura, fundado em 1859, e abrigava laboratórios bem equipados. Atualmente, o prédio está em ruínas. Esse curso, pioneiro no Brasil, foi herdado pela Universidade Federal do Recôncavo.
A Vila Operária Luiz Tarquínio, em Salvador, inaugurada, em 1892, para os empregados da indústria têxtil e inspirado nas tenement houses britânicas, mas com arquitetura baiana (postal colorizado, cerca de 1907).
A charmosa Cidade do Salvador em 1848, em litografia de Alfred Martinet. Destaque para o Theatro São João, à direita.
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Por Jonildo Bacelar